Nina Sampaio
3 min readNov 1, 2023

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Feliz 2 anos para Valentim e para a mamãe dele

É madrugada, faz silêncio e já é 01/11. Há dois anos, no final do dia, eu renascia, de alguma forma, junto a Valentim que surgia no mundo, nascido de meu ventre. Entre aquele dia primeiro e este, foram dois anos e muitos esfacelamentos e muitos renascimentos. Foram muitos rolês hormonais, psicológicos e sociais (hehehe, pra não dizer "çocorro, deus!). Muita gente sumiu de vez de minha vida, muita gente permaneceu de forma linda, outras surgiram lindamente também. De nossas vidas, melhor dizer. Teve gente que soube e quis se fazer presente até distante quilômetros de distância: e estamos aí mãe e ties deste menino-mundo Valentim. Neste intervalo de tempo para mim e vida-inteira para ele, muitas águas rolaram, muita elaboração ainda não foi feita, muito sentimento de perdição tem sido real, muita dor e muita alegria tem feito morada em meu peito. Já engoli injustiça, solidão, incompreensões e já me alimentei de amor e de refazimento diante de tudo. Já me vi bicho, fera, desconhecida-de-mim-mesma no espelho, na pia da cozinha, na porta da rua. Quanta intensidade! Nesses dois anos, tem sido doloroso e delicioso aprender a ser mãe de Valentim ao mesmo tempo em que devo pensar em ser eu mesma dentro desta função, que é o mesmo de dizer "tem sido delicioso e doloroso tentar não me perder a mim mesma numa função pesada, cheia de responsabilidade". Me sinto muitas vezes sozinha de solidão ruim. Outras vezes, preciso cavar uma solidão necessária seja para mim e para meu rebento, seja para mim mesma. Sinto uma falta enorme de minha mãe viva, junto a mim, junto à gente. Dizem que os primeiros dois anos e meio da maternidade é isso mesmo: simbiose com o bebê, mergulho profundo em águas lagunais (olha a palavra que invento para passar a ideia de hormonais-psicológicas fortes dentro de uma sociedade duríssima!), ciência de que não pode se perder-mas-não-se-sabe-como-fazer-isso, etc. Tô nadando neste lago já mais-do-meio-pra-cima, mas ainda tô no lago. E Valentim? É aniversário dele, afinal. Bem, ele: ele é um bebê, como muita gente que o conhece, vê: feliz e lindão. Tem crescido saudável, forte, bem cuidado e não apenas no campo da saúde física e da alimentação: ele vive muito pele a pele com a mamãe, tetê, olho no olho, conversa, companhia, brincadeiras, respeito ao corpinho e à mente dele, à rotina que o equilibra, etc. A mãe perdida nas águas lagunais brinca e cuida todos os dias da vida dela com ele e dele, baba e tenta de tudo para contribuir em seu desenvolvimento físico, cognitivo, emocional. A mãe perdida na lagoa está toda presente na vida dele e isso faz diferença boa para ela e, provavelmente, para ele também. É aniversário do Ferinha, é tempo feliz, mas o mundo que todos nós construímos todos os dias não pára de acontecer: a mamãe dele está metida neste mundo, como ele há dois anos está. E este mundo já deu foi muito na cara desta mãe em construção. Quase que afoga a pobre nas tais águas lagunais. Sem nem pensar no bebê lindo que faz aniversário só de dois aninhos, minha gente! Por isso, a missão firme é: bora tacar fogo no que é paia? Olha que presentão pra todo mundo: outro mundo melhor sendo possível, onde só bastem as águas lagunais para as mamães, sem mãos as afogando! Onde um bebê possa crescer saudável e feliz para ser o que ele quiser de bom sem mãos o afogando! Bora, coletivamente, ser mãos de tirar de afogamentos, de esperar nas beiras dos lagos, os que mergulharam mergulhos necessários e voltaram? Bora ser mãos de salvar e/ou de receber e não de afundar e/ou abandonar? Valentim e todos os seus contemporâneozinhos vão gostar demais deste presente.

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