Nina Sampaio
3 min readSep 5, 2023

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Um homem descontrolado ou um professor que sabe seu lugar de poder dentro da Universidade?

A espada de Ogum é ligeira. Ela corta mata densa para abrir estrada. Dizem os ocidentais que a estrada é a tal da civilização. A mata é a selvageria, dizem eles. Há cosmovisões muito mais sofisticadas que se atentam para as co-habitações muito mais do que para os binarismos. Estas cosmovisões, especialmente a iorubá, nos dizem que não se pode falar o nome de um Oboró (homem, a grosso modo) sem dizer o de uma Yá (mulher). Não se fala em Xangô sem se falar em Iansã, por exemplo. É que as coexistências valorativas se dão muito mais que complementaridades, que passa a ideia da falta, tão cara para a psicanálise ocidental. Há povos que dizem "eu sou porque nós somos". Podemos aprender com outras formas de pensamento. Mas há uma resistência entre os fincados no poder: eles desejam que outras formas de saber, outras formas de fazer, outras histórias não sejam difundidas. Eles guardam os lugares de prestígio para si e para os seus iguais. É assim que fazem homens fincados em seus lugares de poder em nossas sociedade, por exemplo. Muitas vezes esse homem está professor em uma sala de aula de uma universidade e tem horror às suas alunas mulheres que se destacam. A presença delas ali é o sinal de que outras histórias podem ser contadas. Outras histórias diferentes das do grupo específico do professor. Então a perseguição pode se instaurar. Não bastam os epistemicídios, as tantas mulheres, negras e indígenas em especial, intelectuais que são soterradas, que não constam em bibliografias: o professor tem que perseguir, maltratar, angustiar suas alunas. O professor deseja aplicar a elas o silêncio desde já, para que não nasça ali mais uma história que vai balançar a estrutura que o sustenta ali naquele lugar de poder. Parece ser este o caso do professor que ocupa a cadeira de Língua Inglesa da UEG. A aluna Liliane Viana Machado precisou registrar uma Ocorrência por ter sido humilhada publicamente, com dedos em riste em direção à sua face, em gesto de explícita agressão. A aluna resolveu fazer diferente e não ficar calada, não ser interrompida. Marielle Franco também impôs sua voz e disse que não seria interrompida. Foi assassinada, é fato, como tantas de nós temos sido, mas interrompida não foi: virou semente e vive em cada outra mulher periférica que não se cala. E temos tido muitos nomes em nossa história política recente para provar o florescimento de um gesto muito mais poderoso que as ameaças de um homem que quer permanecer em estado de violência e poder: não silenciar. Lili, estamos com você: um professor não pode intimidar uma aluna. A relação entre professor e aluna deve ser de florescimento de ideias para a construção de um mundo melhor, não do mesmo mundo instaurado em violências coloniais, capacitistas, racistas e/ou misóginas. Falemos, construamos outra história e, os homens, que sejam nossos aliados em boníssima novidade e não nossos algozes em estabelecido fazer. Não nos calemos! Forjemos nossas espadas para as lutas dignas! Ogunhê!

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